sábado, 28 de agosto de 2010

O último post



Dissertação entregue, mestrado concluído, deixo Londres hoje com destino a São Paulo. Levo comigo o maior motivo do retorno a minha cidade natal: um príncipe de 9 anos que, de acordo com os meus cálculos, ainda precisa crescer um pouco mais convivendo com o pai, os avós e o restante da família, que mora no Brasil.

Nesse um ano vivendo London Everyday crescemos demais, aprendemos muito, fizemos amigos queridos e, principalmente, nos permitirmos observar a vida, nos dando o direito de nos surpreendermos positivamente com ela.

Segunda-feira, dia 30, entra no ar o Cenas da Vida em São Paulo, no endereço http://cenasdavidaemsaopaulo.blogspot.com/, meu novo blog sobre o dia-a-dia em Sampa. Ainda não sei muito bem como ele será. Vai depender do que eu encontrar por lá e de como os meus novos olhos enxergarão o cotidiano paulistano. Juro que não sei como será.

Fico torcendo para que a profecia do Hyde Park seja verdadeira. De turbante, barba e um sotaque bem indiano, um homem simplesmente passou por mim hoje e disse, do nada, que o mês que vem seria de muita sorte para mim. Isso nunca aconteceu antes comigo. Fingers crossed. Era tudo o que eu precisava ouvir hoje, meu senhor.

Pedalinho no Hyde Park



Não me lembro da última vez em que andei de pedalinho. Isso se andei. Mas desde que vi o filme Happy Go Lucky (Simplesmente Feliz), do Mike Leigh, fiquei aguada para andar no pedalinho do Hyde Park. O filme termina com a protagonista andando num barquinho no Serpentine lake, dentro do Hyde Park, e eu fiquei encantada com aquilo.

Hoje matamos a vontade. E adoramos. Ian enlouqueceu. Eu dirigi o pedalinho (pedalando e controlando uma espécie de leme). Ian também pedalou, embora tenha zuado mais do que pedalado. Juju foi de camarote, como nossa convidada aqui em Londres, enquanto Ian e eu tentávamos dar um norte para o tal barquinho.

Como sempre tudo impecável: preço acessível (£3 criança, £7 adulto para meia hora), lago lindo, equipe preparada, barco salva-vidas de olho em todo mundo e até um solzinho brilhou por lá. Queremos voltar outras vezes.

P is for Pavilion



Há 10 anos, a Serpentine Gallery, que fica dentro do Hyde Park, contrata um arquiteto para fazer um projeto/instalação para o jardim da galeria, fazendo disso a atração do verão na Serpentine. Até Niemeyer já participou, em 2003, com uma obra.

Fomos lá hoje conferir o Pavilion, quando demos de cara com essa estrutura toda vermelha, imensa e maravilhosa. Se já gostei de longe, pelas formas e por ser também a minha cor preferida, fiquei encantada quando vi por dentro.

O criador da obra, o arquiteto francês Jean Nouvel, fez uma área de convivência linda, 100% vermelha, com um café, redes, bancos, cadeiras, almofadas, tudo aconchegante e num contraste lindo com o verde da paisagem. E de tanto vermelho, chegava até a dar uma confundida no olhar...parecia que as formas estavam se movendo. Jean Nouvel leu meus pensamentos. Esse seria o meu projeto se eu fosse a arquiteta convidada para bolar o tal Pavilion.

Que cidade é essa?



Nesses dias de férias pós-dissertação e pré-Brasil, fizemos um bate-volta na capital da Bélgica. A decisão pelo destino foi meramente prática: qual o local que não precisaríamos pegar avião, sem ser França, Escócia e País de Gales? Batata: deu Bruxelas.

Sabíamos que a cidade não tinha grandes apelos, mas além da praticidade do transporte, havia também a questão de a Bélgica ser a capital mundial do waffle, um negócio em que a minha irmã é viciada.

E nos surpreendemos: além dos waffles da Juliana, curtimos particularmente a praça principal, que é um tesouro medieval com fachadas do século 12 lindas de morrer, e a área dos prédios que abrigam os escritórios da comunidade européia. Eu tinha muita curiosidade em saber como era tudo aquilo e a minha ilusão dizia que o local era perfeito, numa área super bucólica, enfim, o estereótipo da Europa bem-resolvida.

Pois é, mas era ilusão mesmo. Os prédios da comissão européia, como esse da foto abaixo, ficam plantados numa área cercada pelo bairro de imigrantes turcos/árabes. Bairro simples, gente humilde, que parece ser o resumo de um dos principais problemas da Europa hoje em dia: imigração.



E no espírito de conhecer a cidade não pelos pontos turísticos óbvios, como o tal do Atomium e da mini-Europa (que nem vimos, diga-se de passagem), mas pelo curioso, descobrimos duas coisas muito legais.

Por exemplo, os dois prédios que eram o Congresso, super deteriorados, separados por esse monumento, e que tinham grafites bem interessantes nas laterais. Eu estava passando batido, mas o Ian, com olhos já bem treinados, não deixou escapar.



Outra boa surpresa foi essa instalação, na foto abaixo, que estava em vários pontos da cidade, questionando a vida na cidade que tem hoje 46% de estrangeiros entre os seus moradores (e eu achava que Londres, com seus cerca de 30% de imigrantes, já era muito multi-cultural...). Que cidade é essa: uma vila cosmopolita ou uma cidade de refugiados, lia-se em duas das perguntas.



Vimos várias outras coisas, refleti bastante e voltei para casa, também refletindo, a propósito do momento, qual é a cidade em que fica minha "casa".

A cider sueca



No dia seguinte ao que Juju chegou aqui em Londres, fomos passear em Brighton. Céu nublado, um vento forte e não é que demos de cara com a melhor cidra de todos os tempos. Se você torceu o nariz com a palavra 'cidra' está perdoado. Eu também fiz o mesmo quando me ofereceram 'cider'.

O lance é que a Inglaterra é grande produtora de cider (uma bebida alcoólica, fermentada, à base de maçã) e eu, como sempre, topei experimentar a bebida local. Não foi em Brigthon, mas em Richmond, outro dia. Pedi a Rekorderlig, sabor morango e lima. Amei. E só depois vi que a tal cider não era daqui, mas da Suécia.

Confusões de procedência à parte, demos de cara com a Rekorderlig (difícil de achar aqui em Londres) em Brighton e não perdermos a oportunidade. Um brinde à bebida nacional da Inglaterra (mais uma delas, depois do chá e do Pimm's) feita na Suécia.

Pink e azul





Pode parecer meio chavão e acho que é mesmo, mas adoro ver esses cabelos coloridos aqui em Londres. Sexta-feira, coincidentemente, cruzei com dois que me chamaram a atenção. O pink, no ônibus, numa moça que sentou ao lado do Ian, e o azul, nessa mulher normalzinha, no Soho. Ao gosto inglês, tudo bem manchado, irregular, meio desgrenhado. E em gente normalíssima, nada de montação.

Isso ainda me chama a atenção, mas o povo aqui não dá a menor bola. E tem também os modelos multicoloridos, com duas ou mais cores. Até as senhoras de idade usam. Deixa os meus brancos aparecerem...

A cidade arco-íris



Mais um arco-íris deu o ar da graça em Londres hoje, depois de um sol tímido e uma chuva que não sabia se ia ou se ficava. Foi na Strand, perto da Charing Cross. Só um pedacinho, mas o suficiente para me animar e para me lembrar que o céu sem poluição reserva várias surpresas. Qualquer dia vejo um cometa ou um ovni.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Reciclagem levada a sério



Reciclagem, aqui em Londres, significa muito mais do que separar seu lixo. Significa, principalmente, reduzir o consumo das coisas e reutilizá-las, sem preconceitos. E é aí que as charity shops entram.

Elas vendem roupas, sapatos, chapéus, bolsas, brinquedos, livros, artigos de decoração e mais o que alguém doar, desde que esteja em boas condições. Geralmente ligadas a alguma instituição filantrópica (como a Cancer Research UK ou o Hospice), elas recebem todo o tipo de doação e vendem os produtos por preços bem camaradas, que financiam as causas as quais elas estão relacionadas.

As charity shops estão espalhadas por todos os bairros e são, aqui em Crouch End, aquelas lojinhas em que o pessoal entra sempre para dar uma zapeada e conferir as novidades, como essa da foto acima. Mas tem de ter o espírito para tal. Não é todo mundo que acharia graça. Eu, por exemplo, vou sempre: para doar e para checar o que chegou recentemente.

E o bom é que não se corre o risco de nenhuma extravagância financeira (extravagância, por sinal, só se você se empolgar com uns modelitos ultra-diferentes...). Geralmente, cada peça não sai por mais de £5, com exceção de algumas, como esse casaco de lã, da foto abaixo, novinho, que eu comprei por £10. Na verdade, custava £12, mas como estava sem dois botões, negociei um desconto.



E para compensar os botões que faltam, já tenho um projeto para ele: vou trocar todos os botões, colocando um diferente do outro, todos bem transados. Esse é o espírito londrino: faça você mesmo, sem gastar muito, ficando super alternativo. Definitivamente, Londres não seria a mesma sem as charity shops.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Mais que uma biblioteca



Bibliotecas são, na minha opinião, lugares mágicos. Adoro ver aquelas prateleiras forradas de livros. Quanto conteúdo, quantas histórias em cada linha. Passei bastante tempo nesse último ano em bibliotecas: na da minha faculdade, na British Library, e nessa graciosa biblioteca do meu bairro, na foto acima, que não poderia faltar nesse blog.

Agora que já desaceleri da produção acadêmica, estou fã dos DVDs e CDs. Semana passada, assiti Julie & Julia, depois que duas amigas haviam recomendado. Hoje, peguei Broken Embraces, o mais recente do Almodóvar, e mais cinco CDs: Foals, Florence and the Machine, Morrissey e dois do Oasis. Ian escolheu mais três DVDs. Minha conta total: £5. Como é bom viver num lugar em que o dinheiro tem valor e que você pode fazer muito com cada libra.

A biblioteca é cheia de atividades, cursos, eventos, sessões para crianças. Então, a biblioteca é chave na socialização e na vida cultural das pessoas. É um estilo de vida inteligente e acessível, assim como as charity shops. Mas elas são assunto para outro post.

A pequena Cardiff



Antes que a fada Juju aterrise por essas paragens, fomos conhecer um pouco mais das terras da Elizabeth. O roteiro escolhido dessa vez, Cardiff, capital do País de Gales.

Viviane, louca-por-viagens, embarcou conosco no busão da National Express que saiu de Victoria e levou cerca de três horas para chegar em Cardiff. Detalhe: por cerca de £10 pounds o trecho. Nunca havia andado de ônibus em grandes distâncias aqui e queria experimentar. Confesso que estava um pouco apreensiva. Depois de uma viagem-pesadelo em um ônibus da Greyhound, na Califórnia, em 2007, não sabia muito bem o que esperar.

Mas a National Express é show de bola: muito eficiente e super confortável, com direito até a motorista divertido, que vai dando as orientações no microfone, de forma super bem humorada.

Enfim, Cardiff nos recebeu de forma típica: com muita chuva e um céu mega nublado. Mas isso não nos intimidou. Renovei os guarda-chuvas (que estavam em estado deplorável) e lá fomos nós andar pela pequena Cardiff. Pequena mesmo: acho que nos dois dias que ficamos lá demos pelo menos umas quatro voltas completas no centro da cidade.

Vimos o que tinha de ser visto: o castelo, o estádio ultra moderno (detalhe: um colado no outro, como se vê na foto acima), a área da Baía, totalmente reformada, com seu millenium centre, o mercado central e umas lojinhas. Comemos Welsh cakes, bebemos Brains (a cerveja local) e nos empacotamos no ônibus de novo. Rimos à beça. Valeu o passeio, Vivi.