quarta-feira, 24 de março de 2010

Halfway Home


Nesse looonngo mês de março, fez seis meses que estamos aqui e, consequentemente, faltam mais seis para voltarmos para casa. À medida em que começo a colocar no papel minhas últimas essays e aprovo a minha proposta de dissertação, vai dando uma sensação estranha.

Aquele grande, imenso, sonhado, muitas vezes pensado inalcansável projeto entra em sua segunda metade, cada dia mais perto do final do que do começo, me dando sensações distintas: conforme o tempo passa, a saudades da família e dos amigos aumenta, mas também sinto uma certa tristeza em me desconectar daqui.

Gosto das coisas como elas são aqui e, principalmente, me identifico com o modo de pensar e de viver. Mas existe home. E o que é home? É família, é o conforto do conhecido, da língua que se domina nas entranhas e do avesso. E a não home? O desconhecido, o desconforto, o aprendizado.

É por isso que as pessoas aqui aos 18 anos vão morar sozinhas, descobrir e construir suas próprias homes. E as pessoas no Brasil moram na casa dos pais até os 40 para ficar no quentinho. Estou refletindo sobre home. Esse post é isso: um fragmento desse pensamento ainda não construído totalmente.

Talvez, então, devesse existir um lugar que fosse halfway home, meio quentinho, mas que também permitisse aprendizado.

terça-feira, 23 de março de 2010

Vou de Vivienne

Previsão para amanhã? Chuva. Vou de Vivienne Westwood, com certeza. No melhor estilo Brazil-Londres (projeto da Melissa, encapado pela musa da moda britânica).

Os pássaros nos acordam pela manhã

A passarada de Londres está em polvorosa. A primavera mal chegou e eles estão enlouquecidos. Eles não cantam, gritam. É um barato. Outro dia, acordei às 4 da manhã de tanto barulho. Não é exagero, eu juro. No mesmo dia, um pouco mais tarde, gravei o som deles. Veja se você consegue ouvir:

O global e o local

Até pouco tempo, achava bobagem esse papo de global e local. Achava que era mais um discurso barato, americano, raso. Pois eu estava enganada. Lendo Manuel Castells, sociólogo espanhol, que será uma referência importante na minha dissertação, passei a entender essa história de forma totalmente diferente.

Percebi também que aqui em Londres, sem dúvida um dos melhores exemplos do mundo no quesito "global", existe uma consciência fortíssima pela defesa do local. Não é restrição, reserva de mercado, preconceito, nada disso. É só um pensamento muito racional, por sinal, que alguém precisa defender a sua cidade, o seu comércio, a sua rua, o seu mundo das influências inevitáveis da globalização e da consequentente pasteurização cultural que vem com ela.

Pois bem: um dos melhores exemplos disso, na minha opinião, é a padaria do Dunn's aqui no meu bairro. Ela existe de 1850 e está firme e forte, totalmente apoiada pela comunidade local. O Dunn´s e sua família, claro, fazem a sua parte com produtos de qualidade e preços honestos. E o povo compra porque entende que é importante preservar o local. Olha o Dunn's aí:



Exemplos não faltam. Além do Dunn's, tem a livraria de um tiozinho muito simpático, que tem preços imbatíveis e transforma a loja no domingo de manhã, com música alta (detalhe: ele canta junto). Eu compro nos dois lugares. E fico feliz. E, agora, entendo o porquê.

Primeiro post de primavera



Sim, a natureza é muito eficiente. A primavera mal chegou e todas as árvores, arbustos e demais categorias de plantas já estão com a sua lição de casa feita. Os brotos já apareceram e, logo mais, as flores devem pintar toda a cidade.

Hoje, num gesto lindo, Lúcia (a babá perfeita, que só perde para a avó perfeita, porque avó não tem competição -- essa é pra você, mãe!) e Ian me presentearam com um arranjo lindo de flores que eles colheram no caminho de volta da escola. AMEI. Obrigada, vocês são lindos!

domingo, 14 de março de 2010

Jitish Kallat é o cara

Sexta-feira passada foi ver a exposição Indian Art Today, na Saatchi Gallery, em busca de um tema para uma essay. Não saí de lá apenas com um tema, mas com algumas constatações interessantes:

1) Sim, a estratégia de colocar a arte indiana no mercado global anda a passos largos e está mais do que bem articulada. Além da mega exposição na Saatchi, acabei de ler hoje que o Sesc Pompéia, em São Paulo, também está abrigando um trabalho parecido, chamado A Arte Indiana Hoje. Não é por acaso.

2) Apesar de não ser exatamente sucesso de crítica aqui, a exposição traz muita, muita coisa interessante. Além da quantidade (26 artistas em 12 salas), a qualidade me chamou muito a atenção. Statements poderosos e execuções pra lá de sensíveis.

3) Dos 26 artistas, 11 eram mulheres, quase a metade, o que eu achei bem acima da média.

4) Entre os vários artistas que me chamaram a atenção, Jitish Kallat, me pegou. Com duas instalações e uma outra sala só para ele, Kallat vai ao ponto, reunindo beleza e um discurso político afiado. Vale a pena dar uma olhada, porque sei que ele está na exposição do Sesc também.

5) Essa obra abaixo, chamada Public Notice 2, de Kallat, está numa sala imensa, a primeira da exposição, e traz um discurso de Gandhi em letras que imitam ossos. Poderoso.


E, para mim, sempre, a pergunta que não quer calar: o que é a Arte Brasileira hoje?

Happy Mom's Baking Day


Não sei o porquê, mas o Dia das Mães aqui no Reino Unido se comemora hoje, no segundo domingo de março, não no segundo domingo de maio como fazemos no Brasil. E meio sem querer, Tomi e eu marcamos um Baking Day para hoje.

Tomi é uma amiga muito querida, mãe exemplar de duas pequenas lindas e que me recebeu muitíssimo bem em Londres. Compartilhamos uma história profissional parecida. Trabalhamos na mesma empresa, no mesmo período, na mesma área, mas só fomos nos conhecer pessoalmente aqui. Enfim, uma surpresa muito especial na minha vida.

Baking Day é como chamamos a tarde de fazer bolo. A receita escolhida foi bolo de cenoura (do brasileiro, porque aqui tem uma outra "versão" de bolo de cenoura), que ficou uma delícia (o da foto é meramente ilustrativo...).

Enfim, passamos o domingo na cozinha, entre panelas, forno e louça, batendo papo. As crianças ficaram na sala, jogando video game, cantando karaokê e brincando de esconde-esconde. Receita ideal de Dia das Mães. Thanks, Tomi!

Londres de contrastes

Moderno e tradicional, pobre e rico, populoso e vazio. Foi essa experiência de contrastes que vivemos no sábado, durante um passeio de bike no leste de Londres. Em um percurso de 3 horas e meia, cruzamos pontos turísticos cheios de gente, fomos para bairros pobres de imigrantes, entramos em áreas ricas, com marinas à beira do Tâmisa, e, mais uma vez, adoramos o que vimos. Sem dúvida, um passeio muito bacana para quem quer fugir do óbvio.

Olha as nossas bikes. Essa primeira é a minha:



O Ian, que aguentou bem o tranco, foi numa cross, laranjinha:


E esse contraste arquitetônico entre um prédio todo feito de aço, supermoderno, exatamente ao lado de um mercado da era Vitoriana, ultra antigo e tradicional, me deixou encantada:



De um lado, esse ícone tradicional, totalmente conservado:



E de outro, a pós-modernidade pedindo passagem:

quinta-feira, 11 de março de 2010

Despedida

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

Mário Quintana

Mensagem a um amigo que faleceu e outra pessoa que partiu. Não pude me despedir de nenhum dos dois. Que vocês fiquem em paz.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Cinema de bairro

Já faz tempo que os cinemas de bairro deixaram de existir em São Paulo. No lugar deles, proliferam igrejas evangélicas e toda a sorte de comércio estranho. Restam as redes, ems shoppings, que cobram uma fortuna pelo ingresso e outra fortuna se paga pelo estacionamento, caso se vá de carro.

Pois bem. Neste sábado, Ian e eu fomos conhecer o cinema de bairro mais próximo aqui de casa (10 minutos de ônibus). É o Odeon (uma rede), mas que conservou os cinemas de bairro, não é interessante? Então, eles administram, etc e mantêm tanto o prédio (que geralmente é bonito e histórico) e a programação voltada para o perfil do público daquela região.

E a nossa experiência no Odeon Muswell Hill foi excelente. De fora, parecia um cinema pequeno, acanhadinho, assim:



Mas quando entramos na sala, tive um verdadeiro choque. A sala é gigante e linda, toda em art-deco, chiquérrima. Pena que a minha foto não deu conta...


O filme? Alice no País das Maravilhas, um desbunde. Mas isto é assunto para outro post.

P.S: amigas e amigos que lêem esse blog, obrigada pelo incentivo. Continuem me cobrando posts. E comentem!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Esse Google...

O Google é danado. E que ele ajuda, ajuda. Esses dias descobri (e não sei se todo mundo já sabe isso...e eu quem estava atrasada) que é possível "publicar" um arquivo pesado, desses que não dá para mandar por email, no Google e daí é só mandar o link para quem você quiser. Fácil, fácil. É o Google Docs.

Sei que esse tipo de compartilhamento já exitia em outras plataformas, mas não Google. Daí que eu fiz um teste e publiquei uma de minhas essays (a que eu ganhei distinção, com nota 70) para enviar para um dos entrevistados. Deu certo. E em dois minutos.

Bom, se você quiser ler o material (texto acadêmico, já vou avisando), é só clicar aqui:

https://docs.google.co/fileview?id=0B3dpENydB8K5NjBiYWE4MDgt

Me perdoe se o texto for chato demais e se essa história de Google Docs também já estiver ultrapassada. Afinal, já sou uma senhora de 35 anos.

Flower power


A primavera nem chegou, muito menos o verão, mas num passeio rápido pela Oxford Circus ontem à tarde, contaminada pela alegria da quase-primavera, com sol lindo e 10 graus, me deu a certeza de que eu vou me esbaldar nessa primavera-verão em Londres.

As bolinhas que eu tanto amo, as listras e as flores estão por toda parte: roupas, acessórios, calçados, bolsas, calcinhas, tudo. Me animei e comprei flores até para o cabelo. Vermelhas, claro, e camisetas listradinhas, larguinhas para usar com legging e sapatilha. Auge do conforto. Até a embalagem do body scrub da H&M é de bolinha. Não resisti e comprei o de pomegranade.

A melhor parte: preços incríveis na H&M. Flores de cabelo: duas por £1,99. Body Scrub (exfoliante corporal): £ 1,99, camisetas: £ 2,99 cada. Nada como uma tarde de quase-primavera, em sua própria companhia, para levantar o astral.

Paciência zen-budista


De volta à Londres depois de 10 dias de Espanha e mais uma semana de agitação por aqui mesmo, com aniversário do pequeno Ian, que completou 9 anos, e da visita do meu pai, este é um postzinho rápido.

A passagem por Londres está sendo, entre outras coisas, mais uma daquelas experiências em que a vida pede paciência (se é que ela não faz isso o tempo todo...). Depois de alguns episódios, chego à conclusão: odeio followers. E parece que sou vítima delas.

Respiro fundo e peço a Buda que me dê mais paciência e, principalmente, que faça cada um curtir seu próprio estilo, gostos, etc, sem precisar se inspirar em ninguém. A beleza está na singularidade. Amém.